Combustão

Combustão
Tal como a combustão do que inflamável
gerando, à volta, chama em pleno ardor
assim nós dois, arfando o nosso amor,
nos consumimos, e foi memorável!…
Depus todo o querer nesse calor
pois que fugir nos fora inaceitável
e envoltos no desejo a arder, saudável,
deixamo-nos queimar sem ter pudor…
Gemestes contorcendo-te na flama
dos corpos se encaixando sobre a cama
buscando, do prazer, a erupção
e, quando ela se fez voraz, vibrante,
tornou-se abrasador aquele instante
perpetuando em nós toda paixão!
Soneto: Combustão – Paulo Braga Silveira Junior – Junho/2020
Outros Sonetos
Poesia, Poema e Soneto
Soneto noturno (Ruy Espinheira Filho)
Penso na noite como um rio profundo
e lembro coisas deste e de outro mundo.
Outros mundos, aliás, que a vida é vasta
como diversa. E mesmo assim não basta,
o que nos faz tecer ainda outras vidas
nas nuvens da alma, e que nos são vividas
com tanta força quanto as outras mais,
em seus sonhos de agora e de jamais
(ou melhor: com mais força, pois estamos
ainda mais vivos no que nos sonhamos).
Penso na noite como um mar sem fim
quebrando sombras sobre o cais de mim.
E, enfim, sem esperanças e sem prece,
pressinto a noite que não amanhece
Soneto da Justificação (Ruy Espinheira Filho)
Esta noite (ele pensa) justifica
— com seu luar abençoando os ramos
do pé de carambola — os estertores
de que surgiu o Universo. Fica
tudo, tudo (ele pensa) redimido.
Deuses. Deus. O Acaso. Não importa.
Valeu (eis o milagre em sua porta!)
a pena que custou a gestação
deste momento. O qual lhe justifica
(ele suspira), enfim, a paciência
de — até chegar a este luar nos ramos —
ter (calcula) esperado cinco décadas,
sessenta dias e, fechando as contas,
alguns punhados de bilhões de anos.
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